O dólar encerrou a sessão desta sexta-feira (30), em alta moderada, apesar de duas intervenções do Banco Central no mercado de câmbio, com leilão de venda de moeda à vista e de swaps cambiais.
A despeito de a divisa norte-americana ter avançado no exterior e de fatores técnicos típicos de fim de mês – como rolagem de posições no segmento futuro e a formação da última taxa ptax de agosto -, parte relevante do novo escorregão do real foi atribuída ao aumento da percepção de risco doméstico.
Com mínima a R$ 5,5754 e máxima a R$ 5,6919, o dólar à vista terminou o pregão em alta de 0,21%, a R$ 5,6350. Foi o quinto dia seguido de avanço da divisa, que termina a semana com ganhos de 2,84%.
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Ao longo de agosto, a moeda chegou a exibir desvalorização acumulada de mais de 3%, mas encerrou o mês com leve perda (0,36%). No ano, a divisa avança 16,10%.
Qual a cotação do dólar hoje?
O dólar comercial subiu 0,21%, a 5,6350 na compra e na venda. Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento (DOLc1) tinha alta de 0,48%, a 5.656 pontos.
Dólar comercial
- Compra: R$ 5,635
- Venda: R$ 5,635
Dólar turismo
- Compra: R$ 5,681
- Venda: R$ 5,861
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A postura é de cautela em meio à apresentação do projeto de lei de diretrizes orçamentária (PLDO) de 2025. Há receios também com dúvidas sobre impacto de programas do governo, como o aumento do auxílio gás, nas contas públicas e, por tabela, no cumprimento do arcabouço fiscal. O déficit do setor público consolidado em julho acima do esperado, divulgado pela manhã, ajudou a azedar o humor do mercado.
Pesou também contra o real a perspectiva de uma alta mais moderada da taxa Selic do que a esperada por boa parte de investidores e economistas. Após a cacofonia das últimas semanas, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, deu um recado claro nesta sexta-feira em evento da XP, ao dizer que “se e quando houver um ciclo de alta de juros, será gradual”.
O dólar operou em queda em raros momentos na sessão. Um deles foi no início da manhã, sob o impacto do leilão de venda de US$ 1,5 bilhão em moeda à vista, totalmente absorvido. Foi aceita apenas uma proposta com valor integral, o que sugere algo direcionado para demanda específica. Segundo analistas, a motivação para a intervenção seria a saída de cerca de US$ 1 bilhão em razão do rebalanceamento do EWZ (MSCIBrazil ETF), com entrada de ações como Nubank e XP. Esse evento poderia provocar distorções maiores em dia de disputa pela formação da última taxa ptax de agosto.
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Para Leonel Mattos, analista de inteligência de mercados da StoneX, o Banco Central achou que era melhor fazer uma intervenção, garantir a liquidez de mercado. “Só que acaba sinalizando para os agentes de mercado que está tendo um problema. (…) É possível que tenha um efeito de alimentação das preocupações dos investidores que observam falta de compradores de real”, avalia o analista, ressaltando que a operação acaba reforçando o movimento de venda do real, de saída da moeda brasileira.
Além disso, Mattos também ressalta que foram divulgadas estatísticas fiscais de julho, com um déficit primário maior do que o esperado, o que também azeda o humor dos investidores.
A moeda voltou a apresentar queda pontual e bem momentânea no início da tarde, com o anúncio da oferta de US$ 1,5 bilhão em swaps cambiais. Foram vendidos 15.300 contratos, pouco mais da metade da oferta total de 30 mil contratos. Segundo operadores, o BC provavelmente não quis sancionar prêmios pedidos por investidores para colocar o restante da oferta.
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O head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, nota que o leilão de swap conseguiu reduzir pontualmente a alta do dólar, mas que, em compensação, as taxas dos juros futuros longos passaram a subir com mais força. “Isso significa que a alta era motivada também por aumento de risco, e não apenas por uma saída de recursos. Se fosse apenas algo pontual, o mercado teria assimilado o leilão e a volatilidade teria diminuído”, afirma Weigt.
No restante do dia, o mercado local esteve alinhado ao sinal predominante da moeda americana no exterior. Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY renovou máximas à tarde, atingindo 101.783 pontos. Na semana, o DXY avançou cerca de 1%. Pela manhã, a leitura em linha com o esperado do índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) reforçou a possibilidade de o Federal Reserve optar por um alívio gradual da política monetária, com corte inicial de 25 pontos-base em setembro.
Para o economista-chefe da corretora Monte Bravo, Luciano Costa, embora haja um “componente global” na alta do dólar por aqui, um “pedaço grande” da depreciação do real nesta sexta-feira e na semana está ligado ao aumento da percepção de risco fiscal.
“O DXY está se fortalecendo, mas o dólar cai contra o peso mexicano e opera praticamente no zero a zero com o peso chileno hoje”, diz Costa. “Talvez o BC tenha atuado pela segunda vez, com a oferta de swap, porque viu essa diferença e quis evitar uma disfuncionalidade maior na hora da formação da taxa ptax”.
Costa ressalta que, com o Fed prestes a cortar os juros e uma possível alta da taxa Selic, mesmo de forma moderada, como sugere a fala de Campos Neto, a tendência seria de um real menos depreciado.
“Mas a falta de convicção na política fiscal acaba anulando esse benefício. As medidas de cortes de gastos em 2025 vão na direção correta, mas não resolvem o problema estrutural” afirma o economista, para que a estratégia de divulgação do PLOA hoje, mas com entrevista coletiva para detalhamento apenas na segunda-feira, contribuiu para aumentar a volatilidade.
(com Reuters e Estadão Conteúdo)
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