A geração dos millennials e a dos baby boomers são frequentemente consideradas contrastes geracionais: uma foi beneficiada por um período de crescimento econômico sem precedentes e por programas governamentais que transferiram bilhões do setor público para o privado, enriquecendo trabalhadores que, por acaso, estavam no lugar certo, na hora certa. Já a outra não tem condições de comprar uma casa própria, não consegue se livrar das dívidas, nem acumular riqueza. Mas uma nova pesquisa revelou que há mais diferenças financeiras dentro das gerações do que entre elas.
Há muito que se diz que os millennials, atualmente com 28 a 43 anos de idade, são a primeira geração na história moderna norte-americana que, em geral, está em situação pior do que seus pais. Os custos da habitação, saúde, dos cuidados infantis, da educação e outros explodiram, enquanto os salários não acompanharam esse ritmo.
Os membros mais antigos da geração ingressaram no mercado de trabalho durante a Grande Recessão, e os millennials de todas as idades também correm o risco de pagar mais do próprio bolso do que seus pais por custos inflacionados de aposentadoria. Todos esses fatores financeiros adiaram a idade média em que os millennials se casam, têm filhos e compram casas.
Mas a pesquisa, publicada pela University of Chicago Press, conclui que posicionar os millennials apenas como estando em situação pior do que as gerações anteriores é algo ligeiramente enganador. Ao analisarem os baby boomers – atualmente com 59 a 78 anos de idade – os pesquisadores descobriram que os resultados econômicos são um pouco mais mistos.
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Embora seja verdade que, em média, a geração dos millennials tem 30% menos riqueza aos 35 anos do que os boomers quando tinham a mesma idade, os 10% mais ricos dos millennials têm 20% mais riqueza do que os boomers mais ricos.
Isto porque os baby boomers “tardios”, hoje com cerca de 60 anos de idade, também alcançaram a maioridade durante “grandes convulsões econômicas e condições adversas do mercado de trabalho”, analisam os estudiosos. Eles também foram duramente atingidos durante a Grande Recessão.
Outras pesquisas apontaram discrepâncias na riqueza dos baby boomers. Dados do Federal Reserve revelam que os membros mais velhos desta geração, hoje com setenta e poucos anos de idade, detêm muito mais riqueza do que seus homólogos mais jovens. Na verdade, os norte-americanos com mais de 70 anos (tanto os baby boomers quanto os membros da Geração Silenciosa) detinham 30% da riqueza do país no final de 2023, embora representassem apenas 11% da população.
De fato, segundo um relatório do Núcleo de Pesquisas sobre Aposentadoria do Boston College, os boomers tardios – aqueles nascidos entre 1958 e 1964 – têm “níveis surpreendentemente baixos de riqueza na aposentadoria quando comparados às gerações anteriores”. Isto se deve, em parte, ao aumento da idade da aposentadoria plena da Previdência Social, à mudança para a utilização principalmente de 401(k)s e de outros planos de contribuição definida para economizar para a aposentadoria e ao impacto financeiro que eles sofreram durante a Grande Recessão.
‘Concentrado no topo’
Isso não significa que tudo vai bem para os millennials. Na verdade, segundo os pesquisadores da University of Chicago Press, “no geral, as preocupações a respeito do bem-estar econômico dos millennials são bem fundamentadas”. A disparidade de riqueza desta geração é representativa do maior aumento da desigualdade de riqueza na sociedade norte-americana nas últimas décadas. “O crescimento da riqueza agregada se concentrou no topo da distribuição, com riqueza estagnada ou mesmo em declínio para a maior parte da população.”
Embora a riqueza média das famílias nos EUA tenha praticamente dobrado entre 1989 e 2016 – de US$ 353 mil para US$ 689 mil – a mediana aumentou apenas marginalmente, de US$ 87 mil para US$ 97 mil, observam os pesquisadores. A riqueza dos domicílios no percentil 90 aumentou de US$ 686 mil para US$ 1.187.900, permanecendo em torno de US$ 0 no percentil 10.
Segundo o relatório, os millennials com altos rendimentos (pense nos trabalhadores da área de tecnologia) conseguiram acumular uma riqueza sem precedentes devido às suas competências. “Os retornos para trajetórias de trabalho de alto nível de status aumentaram, enquanto aqueles para trajetórias de baixo nível de status estagnaram ou diminuíram”, analisam os estudiosos.
Entretanto, aqueles que não possuem essas competências específicas, como alguns trabalhadores de colarinho azul, estão de fato em situação pior do que as gerações anteriores. Em média, os millennials também estão bem mais endividados do que outras gerações, muitos estão sobrecarregados com empréstimos estudantis e dívidas de cartões de crédito, têm níveis mais baixos de propriedade da casa própria e índices de casamento menores, o que afeta muito o acúmulo de riqueza.
“Enquanto os millennials em trajetórias vantajosas de trabalho e família acumularam mais riqueza do que os seus homólogos da geração baby boomer, aqueles com trajetórias de vida típicos da classe trabalhadora não tiveram desempenho melhor, e muitas vezes, ele foi pior do que o daqueles que levavam vidas equivalentes na geração dos seus pais”, escrevem os investigadores.
Mas há algumas boas notícias: a riqueza dos millennials aumentou muito desde o início da pandemia. Relatórios recentes do Federal Reserve e do Center for American Progress revelam que a riqueza alcançou níveis recorde para esta geração e que cresceu mais rapidamente para as gerações mais jovens do que para as mais velhas durante este período, isso graças aos investimentos feitos em ações e outros ativos de rápido crescimento. (Dito isto, eles ainda detêm significativamente menos deles.)
A riqueza ajustada pela inflação para os norte-americanos com menos de 40 anos cresceu espantosos 80% entre o primeiro trimestre de 2019 e o terceiro trimestre de 2023, de acordo com a Federal Reserve de Nova Iorque. Durante o mesmo período, a riqueza das pessoas com idades entre 40 e 54 anos cresceu 10%, enquanto a das pessoas com 55 anos ou mais cresceu 30%.
O relatório do Center for American Progress observa que os jovens norte-americanos foram beneficiados pelo forte mercado de trabalho e pelo “rápido crescimento salarial”. Embora a inflação tenha prejudicado parte dos ganhos de riqueza obtidos desde a pandemia, hoje os millennials como um todo ainda estão muito melhor do que estavam em 2019.
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